Tão,
tão superior, que me olha de cima a baixo, que de tão temente a deus se
transformou-se nele. Sabe quem eu sou?
Sou
aquela que vai para o bar, bebe como um pirata enlouquece até o sol raiar e no
dia seguinte o faz novamente. Você nunca perguntou o porquê, mas mesmo assim te
digo: o que sinto não cabe em mim e tudo o que preciso falar também não cabe
aqui, porque cada dia que morro lembro a razão de eu permanecer viva e sem isso
as coisas já não fazem muito sentido.
Bebo
porque preciso morrer para só então reencarnar melhor, você não entenderia,
afinal não passo de uma bêbada chata que continua a dançar quando a música de
finda, de que adianta me ouvir, não é mesmo? É assim que teus olhos me veem.
Você
me ignora. Todos os dias, o tempo todo e isso seria ok se eu conseguisse lhe
ler. Não consigo. Você mente, oculta verdades como se estivesse sempre
escondendo algo, mas o quê? Quem? Quem é você afinal?
Entristece-me
saber que você, um homem tão culto, que aprecia conhecer lugares novos, acaba
por não conhecê-los de fato, nunca se permite abalar por nada que julgue
passional, mas qual é a beleza da vida se não vivê-la ao seu máximo?
Mas
ainda assim é bom. Sempre disposto a ajudar quem de fato precisa. Bom, tão bom
que o quis pra mim, mas eu já deveria saber que uma pessoa doente como eu não
tem espaço em vidas como a sua. Eu não tenho nem o direito de me permitir ser
parte sua se depois, como um pé de vento, vou bagunçar tudo e fugir. Mas por
você eu ficaria. Seria capaz de me fazer brisa só pra ouvir sua risada
desengonçada.
Seria
você capaz de me salvar de mim, se nem eu mesma sou capaz?
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