sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Flores Mortas

A bateria e o baixo ensaiavam com o bater do meu coração. Respiro. Dentro de mim é silêncio. Me olham como se esperassem algo. Uma vibração, um grito um aplauso. Por que de mim? Um dia que começa errado, fica errado e em erro permanece até seu fim, não tenho ânimo, nem alma pra falar algo, para ser algo. Ao meu redor são notas bonitas, solos complexos e eu por dentro me desfaço e morro. Não consigo, não consigo. Em dias como esse a respiração pesa, como se fosse um fardo maior do que sou capaz de aturar. Fecho os olhos por um segundo e consigo visualizar cada palavra dita e lembro todos momentos, o dia em que foram escritas, o que eu sentia, o que sinto e então sento. É um fardo abominável de se carregar, espero que não esperem nada de mim, no fim não valho a pena. Nada em mim vale. Nem um milímetro da minha pele, nem mesmo as pontas duplas do cabelo que me adorna o rosto.
Não me queira, nem eu sou capaz de tal. Sou barulho e silencio, sou amor e ódio, os mais próximos devem saber. Mas hoje vos digo, algo em mim morre, não sei ao certo o que, penso em me deitar, fechar os olhos e dormir o máximo possível, mas o dia de amanhã, que já é hoje, me vem como um soco na cara, me destruindo pra lembrar que não posso cair, afinal com certeza alguém me espera sem me querer por perto, buscando apenas o que eu posso fazer para seu prazer.
E você? O que quer de mim? Meus olhos? Minha paciência? Meu tempo? Eu só tenho dor a oferecer. Se afaste.
Não me fites, senhor. Sou apenas uma Vagabunda de olhos baixos, não vês que não devo me aproximar? Sou suja e puta, sou morta tanto por dentro, quanto por fora, mantenha distância, senhor. A louca, eles dizem, nada de bom tem a lhe oferecer, são flores mortas que carrego em mim, abstenha-se e não torne-se uma delas.