domingo, 26 de abril de 2015

Para marcar

Do alto do pedestal que me faz santa, mas puta também, te avisto. 
Contorcido em si, sangrando por mim veneno que plantei. 
Despenco. 
Me jogo para não voltar. 
Tua dor significa mais do que jogos de superioridade, mais do que orgulho digerido. 
Com a mesma mão que bati procuro te reerguer.
 Desequilibro e caio em meio ao nosso mar de sangue.
Ferida tua é aberta em mim também.
É parte do teu coração dragão que vive em mim.

domingo, 19 de abril de 2015

Capitolina

Uma vez, Machado de Assis escreveu sobre os olhos de uma mulher. Segundo ele, ela, Capitolina, tinha olhos oblíquos de cigana dissimulada, olhos de ressaca. No século XIX Machado já falava sobre esses olhos grandes e claros que brincavam com o juízo de Dom Casmurro, e em pleno século XXI consigo entender perfeitamente o que ele dizia. 
Tem olhos que nos tiram a sanidade (a pouca que eu tinha já se foi), que em um relance de poucos segundos nos prendem por toda a vida. Hipnotizam sem dó quem estiver pela frente e esses coitados, atropelados, viram seus reféns. Poucos tem essa capacidade de acorrentar pessoas sem nada falar, sem fazer chantagens. 
Depois, ainda podem desacorrentar a vítima, e eu garanto que ela não esboçará reação alguma, ficar presa por vontade quando se tem total liberdade de partir. É querer ficar, besuntar-se em olhos que nada dizem e ainda assim não o deixam partir. É ter a prerrogativa de ir quando julgar cabível, e nunca ser cabível. 

domingo, 5 de abril de 2015

Amante

Meu amante tem os olhos verdes. 
Verdes de não sei, verdes de será. 
Mãos quentes de destreza única 
E abraços de paz. 
Cheiro de menino, 
E pele alva como o leite.
Meu amante tem sorriso fácil
E gargalhada leve. 
Voz de vento ecoando noite adentro
Meu amante tem tudo que a medida de sei lá o quê precisa.