sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Flores Mortas

A bateria e o baixo ensaiavam com o bater do meu coração. Respiro. Dentro de mim é silêncio. Me olham como se esperassem algo. Uma vibração, um grito um aplauso. Por que de mim? Um dia que começa errado, fica errado e em erro permanece até seu fim, não tenho ânimo, nem alma pra falar algo, para ser algo. Ao meu redor são notas bonitas, solos complexos e eu por dentro me desfaço e morro. Não consigo, não consigo. Em dias como esse a respiração pesa, como se fosse um fardo maior do que sou capaz de aturar. Fecho os olhos por um segundo e consigo visualizar cada palavra dita e lembro todos momentos, o dia em que foram escritas, o que eu sentia, o que sinto e então sento. É um fardo abominável de se carregar, espero que não esperem nada de mim, no fim não valho a pena. Nada em mim vale. Nem um milímetro da minha pele, nem mesmo as pontas duplas do cabelo que me adorna o rosto.
Não me queira, nem eu sou capaz de tal. Sou barulho e silencio, sou amor e ódio, os mais próximos devem saber. Mas hoje vos digo, algo em mim morre, não sei ao certo o que, penso em me deitar, fechar os olhos e dormir o máximo possível, mas o dia de amanhã, que já é hoje, me vem como um soco na cara, me destruindo pra lembrar que não posso cair, afinal com certeza alguém me espera sem me querer por perto, buscando apenas o que eu posso fazer para seu prazer.
E você? O que quer de mim? Meus olhos? Minha paciência? Meu tempo? Eu só tenho dor a oferecer. Se afaste.
Não me fites, senhor. Sou apenas uma Vagabunda de olhos baixos, não vês que não devo me aproximar? Sou suja e puta, sou morta tanto por dentro, quanto por fora, mantenha distância, senhor. A louca, eles dizem, nada de bom tem a lhe oferecer, são flores mortas que carrego em mim, abstenha-se e não torne-se uma delas.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Poema para não voltar

Filha de ninguém,
Abrigada na noite,
Sem casa para voltar,
Sem ninguém para se permitir perder 
Sem abraços para descansar 
Mais só do que quando veio ao mundo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Medo.

Cá estou eu para rabiscar um texto diferente do que estou habituada, e isso é bom, a mudança também se faz necessária.
Hoje choro sobre o medo.
Não um medo qualquer, que todo mundo tem, como o medo da morte, ou de perder entes amados, de ser esquecido, falo de um medo desses que te engole por dentro, que te trava o coração, e o riso também. Ah, sim, isso existe. Trata-se do medo de ser plenamente feliz. Antes de me julgar louca (ora, que péssimo trocadilho), permita que eu explique:
Uma das coisas que todos buscam incessantemente durante o decorrer do tempo é a felicidade. Um sentimento puro, bom, capaz de contagiar as pessoas e o ambiente que o cercam, é onde se encontra plenitude. Afinal, ainda não conheci coisa melhor do que sorrir sem culpa, sorrir por ser reflexo e não máscara pra esconder o que mora em si. 
Mas o que acontece quando levas o baque? Aquele que te pega desarmado, com as calças no joelho, que destrói e mata. 
tu tentas de novo, dá a cara a tapa por ser incapaz de aceitar que algo tão bom pudesse ser construído com mentiras. Sofre, dói pena, sangra, grita sem que te ouçam, mas tenta de novo. O recomeço é tão mais difícil, inclusive do que o próprio começo. 
E o que se pode fazer para evitar tal tragédia? Se pensa muito no "não". Não ser feliz por completo, pois tal felicidade te preenche a ponto de te esvaziar ao extremo quando se vai. 
Falo de ausência, do corte que é mais fundo do que teus olhos podem ver e tuas mãos podem tocar. Mesmo diante dos anos que assisto isso se repetir ainda não consegui criar uma estratégia boa o suficiente para me poupar, porque tenho medo, mas em medida maior tenho amor e me poupar nunca foi da minha natureza.  

domingo, 19 de julho de 2015

Tu vais me proteger do mundo, mas e quem vai me proteger de ti?

És o meu veneno e o meu remédio. O mundo já foi muito mau comigo, já conheci o pior de várias pessoas, e algumas delas conseguiram me machucar a ponto de ver o meu pior, como tu que sangrou em todos os meus espinhos.
Por vezes queria possuir conhecimento além do que sou capaz para me curar, e que não fosse com doses de veneno como tenho feito. Quando vais virar antídoto? Espero que em breve pois definho e morro.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Sapato de camurça azul

Meu sapato apertado, tu tens calejado meus pés mais que o esperado, e quando te tiro vejo meus dedos vermelhos, cheio de bolhas e inchados. Jogo água gelada, coloco alguns bandaids, respiro fundo e te calço de novo. Já não sei o que fazer com o couro que te reveste. Alguém disse para amaciar e admito minha derrota quanto a isso, tenho tentado bem mais que meus outros pares de sapatos e só contigo insisto nesse desatino, nesse cabo de guerra onde vou acabar por afundar a cara na lama. Mas você é tão lindo! combina com todas as minhas roupas, penso em te jogar fora e não consigo. Não sei o que fazer, meu sapatinho de camurça azul.

sábado, 23 de maio de 2015

Berenice

Berenice da cintura fina e dos olhos grandes, dos dentes imensos, brancos e intimidadores. De paixão, de amor, mas de medo também. 
Berenice não era como todos, desses que se encontram em cada esquina. Ali morava coragem e confusão. Dava a cara a tapa quantas vezes se fizesse necessário, não pelo costume ou gosto, mas pela fé no próximo, por sua própria força. 
Berenice era parte de mim em outro corpo, muito mais mulher do que poderia ser. Me olhava no espelho e do outro lado ela me nutria de conselhos e sangrávamos juntas, onde nos confundíamos, perdidas mas em paz. Só é capaz de se encontrar quem por vezes já se perdeu.
Berenice era presença astral, já que há tanto não podia se quer me valer de um abraço seu, e ainda assim lá ela permanecia por vidas a fio. 
Berenice era sanidade em meio a minha loucura, mas também sabia ser loucura quando me afogava em sanidade, era guilhotina para cortar a corda que me enforcava. 
Berenice não era, mas é. 

terça-feira, 19 de maio de 2015

Veneno

A tragédia pré-anunciada foi oficialmente cantada e te levar comigo parecia impossível para ambos. Algo em mim definha há dias na esperança tão vaga de te ter junto ao meu peito como um dia foi, tudo tem o fedor pútrido de mais um de tantos términos e dessa vez permanente. Vindo de ti, isso corrompe meu coração por inteiro, não que ainda existisse muito espaço cedido pela minha incapacidade de te esquecer um dia sequer. Meu corpo treme por inteiro do inicio ao fim, esperando que seja posto o veneno e servido em taças cristalinas pra que eu continue permitindo me embebedar pelos teus olhos. Eu sei exatamente quantas vezes insistir em um erro é burrice, mas insisto. Insisto com a esperança que ainda tenho acreditando que também se faz o certo partindo dos errados. 

domingo, 26 de abril de 2015

Para marcar

Do alto do pedestal que me faz santa, mas puta também, te avisto. 
Contorcido em si, sangrando por mim veneno que plantei. 
Despenco. 
Me jogo para não voltar. 
Tua dor significa mais do que jogos de superioridade, mais do que orgulho digerido. 
Com a mesma mão que bati procuro te reerguer.
 Desequilibro e caio em meio ao nosso mar de sangue.
Ferida tua é aberta em mim também.
É parte do teu coração dragão que vive em mim.

domingo, 19 de abril de 2015

Capitolina

Uma vez, Machado de Assis escreveu sobre os olhos de uma mulher. Segundo ele, ela, Capitolina, tinha olhos oblíquos de cigana dissimulada, olhos de ressaca. No século XIX Machado já falava sobre esses olhos grandes e claros que brincavam com o juízo de Dom Casmurro, e em pleno século XXI consigo entender perfeitamente o que ele dizia. 
Tem olhos que nos tiram a sanidade (a pouca que eu tinha já se foi), que em um relance de poucos segundos nos prendem por toda a vida. Hipnotizam sem dó quem estiver pela frente e esses coitados, atropelados, viram seus reféns. Poucos tem essa capacidade de acorrentar pessoas sem nada falar, sem fazer chantagens. 
Depois, ainda podem desacorrentar a vítima, e eu garanto que ela não esboçará reação alguma, ficar presa por vontade quando se tem total liberdade de partir. É querer ficar, besuntar-se em olhos que nada dizem e ainda assim não o deixam partir. É ter a prerrogativa de ir quando julgar cabível, e nunca ser cabível. 

domingo, 5 de abril de 2015

Amante

Meu amante tem os olhos verdes. 
Verdes de não sei, verdes de será. 
Mãos quentes de destreza única 
E abraços de paz. 
Cheiro de menino, 
E pele alva como o leite.
Meu amante tem sorriso fácil
E gargalhada leve. 
Voz de vento ecoando noite adentro
Meu amante tem tudo que a medida de sei lá o quê precisa. 

quinta-feira, 19 de março de 2015

Júlia

Sem rumo. Estava perdida há muito tempo se contorcendo e implorando por atenção. Precisava se alguma forma se sentir importante, sentir que sua falta fazia falta. Não fazia. Era venenosa, mas a medida do seu veneno não seria capaz de me matar. Quase nada seria. Queria abraços que ninguém poderia dar, abraços de quem fica, constante era a necessidade de calor junto a si em meio a passos confusos para todos, ainda assim foi capaz de encontrar seu servo, a quem apelidaria e criaria como mascote, para nunca lhe negar nada, e caso isso viesse a acontecer, guardava a punição entre os dedos, mesmo sabendo que não seria capaz de usar. Era controladora até ser controlada, domada, criando pra si uma nova ladainha. Sim senhor, acompanhado do peso de suas rédeas. 

terça-feira, 3 de março de 2015

Dois

Entro na sala pedindo a benção dos meus orixás e da mãe dor, ela que tem regido minha vida infame. Sinto falta de uns e de outros morro, mas só o pouco que vive em mim. Tudo me dói, quando eu só queria não sentir nada. Queria viver dormente, adormecida para o mundo, me poupando de toda a merda na qual ando me afundando.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O músico.

Aquele sorriso reluzia diante de suas tristezas cantadas. Era um imenso paradoxo vê-lo sorrir diante de tanta melancolia, mas ainda assim era fácil entender o motivo. Estava em casa, num lar criado para si, para não deixar-se perder. Seu rosto acendia a cada acorde torto não só seu, como de seus cúmplices também. Era bom estar cercada de sua presença desconcertante. Eram olhos que queimavam e voz que inebriava. Era muito para um homem só mas era o que prostrava ali, diante de mim, destrinchando cada canto nem tão desconhecido do seu eu. Afinal, por vezes, era eu também.
Era uma boca de cantar, mas de beber também. Era boca de Beijos não dados. Era um show só seu ninguém seria capaz de andar ao seu lado sem tropeçar.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Você.

Você que me confunde de um forma tão inesperada
Olhos em chamas.
Como lidar com eles?
Como te explicar que te quero mais perto?
Como explicar que encontro refúgio em abraços como os teus?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Café, cigarro e algo mais (ou menos)



Tempo de pipa é, sem dúvida, uma música de saudade. Lembra tanta coisa boa que passou a ser ruim com o tempo. Não se vive de saudade, muito menos de lembranças.
Saudade é aquele sentimento que é bom até você perceber que o que foi é impossível de ser novamente, e quando se dá conta disso, a tristeza recorrente vem junto e você faz como eu. Se exclui, agarra um caderno velho e se limita a escrever meia dúzia de garranchos sem sentido por aí.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Menino.

Menino pálido dos olhos verdes mas vermelhos
Perdido em si e em mim também
que me esquece pra lembrar depois
será que tu também escreves meu nome só pra riscar?

E é tudo cinza. Dia cinza, cidade idem e a vida também.
Pare de falar, e quem sabe eu deixe de sonhar.
Esperei durante meses marcados todos os dias.
Qualquer coisa já seria um sinal positivo.

Infelizmente qualquer coisa não veio.
E por favor, acredite quando digo que não quis, nem tentei,
bambear pernas alheias se não as tuas.
Meu sonho, meu capricho. 

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Embebedar - me de ti.

Fitei o copo pela metade. Péssimo, odeio metades e aquele pouco mal seria capaz de fazer-me pesar. Precisava de mais, de algo que o fizesse transbordar. Olhei para os lados e a garrafa mandava calar-me. Obedeci desobedecendo, sou incapaz de silenciar-me quando tantas vozes dentro de mim sussurram e outras gritam.
Esvazie o copo e permaneci descontente. Sentia sede. Sai e bebi livros. Não, também não me bastaram, apesar de a terem amenizado consideravelmente. Diminui a luz, me ardia os olhos e só então saí de mim porta afora.
Ao contar ladrilhos no caminho esbarrei meu ombro no teu. Desatenção, típico. Te pedi desculpas e voltei a segui com a lembrança do teu eu em mim, mas ainda assim fiquei.
Talvez a bebida que me falte seja o sumo da tua alma.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Conserta minha asa quebrada?


Vou colar meus olhos nos teus.

Você vai me abraçar com aquele cheiro que de tanto seu já é meu.
Vou sentir o tempo e o mundo parar.
Vou sentir que estou em casa novamente. 
Você vai me olhar com aquela cara de quem consegue tudo de qualquer um.
Vai conseguir de mim o que bem quiser, o que bem entender. 
Você vai falar de como todos me odeiam, mas que você acha que me ama. Não vou me importar.
Só o teu ‘achar’ quem me ama já é uma vitória presumida e uma felicidade maior do que eu consigo escrever. 
Vamos ficar bêbados, afinal é isso que fazemos, bebemos. 
Vou ver três de você, fechar os olhos e estar em paz. 
Será possível?

domingo, 18 de janeiro de 2015

Sobre a impaciência de ser impaciente.

A impaciência está longe de ser um dom. Ela incomoda não somente a sua dona (no caso eu), mas as pessoas que a cercam. 
Admiro imensamente as pessoas que tem a capacidade de esperar que seus objetivos se moldem de acordo com o desejo do destino trazido pelo tempo, ainda que eu não consiga ser assim. Ao mesmo tempo me pergunto como ela conseguem ser tão displicentes com suas vontades, recusando-se a mover-se para alcançá-las. Será que a ideia de um destino previamente montado e já resolvido serve de muleta? Talvez uma breve justificativa para o comodismo. 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Mentirosa.

Hoje o dia amanhece cinza e eu, incrivelmente, não tenho nada a ver com isso. 
Queria apenas uma xícara de café bem forte e amargo. 
Cinza eu estou e sou, por dentro,
 mas por fora me enfeito de todas as cores que o mundo pode ter,
 só pra aparecer aquilo que não sou, 
mesmo que quem é de verdade reconheça a minha mentira. 

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Eddy.

Olá querido, sei que faz um certo tempo que não lhe escrevo. Saiba que tenho sentido sua falta e de tudo que nunca fomos, das coisas que nunca tivemos, mas ainda assim insisto em me abrigar nas tuas palavras e fazer delas o meu mais tenro guia. 
Me sinto perdida tantas vezes, tantos dias e tento assim me alimentar de você, 
do legado que nos deixou, tento ser comum e me nutrir também da mais simplória felicidade, igual a todos, mas você bem sabe o quão difícil e frustrante isso pode ser, principalmente tratando-se de pessoas doentes, como nós. 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Evita.

A jovem senhora se viu encolher.
Viu seu belos vestidos de seda passarem a engolir sua figura icônica e imponente.
Foi se transformando numa senhora frágil.
Nem parecia a tão ‘amada’ esposa do ditador,
Que mais tarde cairia aos pés dos grasitas, àqueles que ela jurava amor.
A senhora estava esvaindo-se pelos dedos da vida,
Encontrou o poder e o perdeu, junto com a vida que lhe foi tomada pelo câncer.
A senhora definhou até encontrar seu fim numa cama,
Mas ainda jurando usar aquele vestido que acabara de ser feito para ela.
A senhora alcançou seu objetivo e subiu socialmente rápido após um golpe de sorte
E isso tudo lhe foi tirado.

Pobre senhora sofrida que santa não chega a ser.







segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Hoje mais que ontem.

Hoje é cinza. 
Tenho buscado partes de mim em vários cantos em que me perdi. 
Mas aquela parte que um dia foi mínima, agora me toma quase por inteiro, e ela eu não tenho encontrado.
 Vejo alguns verdes, mas nunca aqueles que acabaram por me roubar.

A saudade, que sempre conheci tão bem, é uma faca de dois gumes:  Horas corta, e outras horas também. 
Cabe a nós escolher qual parte de nós vai ser extirpada. 
A parte podre que nos alegra, ou a parte saudável que nos mata?

sábado, 10 de janeiro de 2015

Sobre o vazio de ser vazio.

É tão estranho procurar plenitude e não encontrar. Quem é pleno afina, afinal? O que é ser pleno? Sinceramente, essa é uma pergunta que eu não vejo como ser respondida. No fim acho que ninguém é pleno, todo mundo sente falta de algo ou de alguém, e na maioria das vezes não conseguem identificar quem ou o quê.
Claramente isso é ineficaz, todos estão perdidos de alguma forma , todos (ou quase) estão podres por dentro, a diferença é que alguns fedem mais que os outros, e ainda existem aqueles que vestem uma máscara tão bonita, tão cordial, que é perfeitamente plausível deixar-se enganar, já que até o próprio dono já é incapaz de encarar o espelho e ver o que se tornou. Se desconhecer-se é algum benefício eu realmente não sei. 
E você? é pleno?

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Ainda tenho mãos pra te segurar.

O que eu posso fazer pra te fazer sorrir?
Eu poderia trocar todos meus sorrisos (falsos ou não),
por uma centelha do teu olhar faiscante 
Por um segundo do teu sorriso imenso 
Pela certeza da tua paz.
Me dói de morte saber do teu pranto, 
do teu desespero lento, 
das sombras que te rondam,
das mãos que te abraçam sem te tocar 
Como a minha, que de certo te toca. 
Mas até aonde ela te alcança?
Será que eu consigo te trazer paz 
com esse jogo suntuoso de palavras que eu nunca ouvi?
Até quando, até onde?

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Fátima

Pede o meu fumo.
Divido contigo enquanto a conversa flui,
como se sempre tivesse sido assim.
Você me diz como a necessidade de viver tem rasgado do teu peito, 
de tal forma que agora todos veem, 
e te digo que não há o que esconder, que viva!
Que gaste todos os sorrisos hoje, 
que o álcool que invade nosso corpo acabe 
só pra no outro dia nós possamos fazer tudo de novo, incessantemente. 
Que gritemos todos nossos segredos de liquidificador até desfalecer. 
Que deixemos o mundo nos engolir pra que a gente renasça, 
sem medo e sem cautela. 
Respirar para viver cada segundo. 

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Norte

Ela acordou desnorteada.
Seu norte estava longe.
 E ela, em espírito, também.
Viu uma singela lágrima de preocupação descer rosto abaixo.
Engoliu seco, era tudo o que se podia fazer.
Levantou com a determinação de um leão,
Ainda que por dentro mais parecesse um gato manso que havia sido espancado.
Sua alma mancava enquanto seus passos eram fortes e largos,
Como os de um soldado a serviço.
A vida toda ouviu que precisava ser como uma fênix, e ressurgir das cinzas,
‘Seja forte’ era o que todos diziam, e era isso que ela estava fazendo.
Sendo forte, nadando contra a corrente todos os dias,
Sendo chicoteada sem cair. 

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Smudge

A vida vem em borrados.
Como a tinta da caneta,
Como a maquiagem da prostituta amanhecida,
Como aquele quadro conceitual,
Como a sua alma turva.
É tudo tão puro e inocente.
Convertê-lo em algo sórdido e febril é automático,
Ainda que pareça um crime.
Então tudo perde o sentido,
Pra quê isso, pra quê aquilo.
Afeta ao ponto de você não se reconhecer
E se perguntar que diabos está acontecendo.

E afinal, o que está acontecendo? 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Ébrio


Trança as pernas em calçadas conhecidas,
Ou nem tão conhecidas assim.
Conta as moedas que em no bolso,
Na vã esperança de chegar em casa.
Olhos arregalados, presos num ponto fixo
Relutando contra a tontura da alma
Respiração pesada e suspiros longos
Pensamento positivo, o enjoo vai passar
Não passa.
Vomita, maltrata, desmaia teu rosto
Sob o chão sujo de verdades.
Abraça o nada
E acorda do mesmo jeito que morreu
Só.