domingo, 21 de novembro de 2021

Salgado e profano.

 

De onde tu estás

Consegue me ouvir?

Quando chamo teu nome dentro de mim incessantemente

Uma ausência

Impossível de ser preenchida.

Não há subterfúgio

Que apague teu nome de mim

Marcado feito tatuagem

Uma assinatura de ferro em brasa

Incapaz de substituição

Uma ausência tão viva

Quanto a própria presença.

Volte, fique, permaneça.

Faça mais uma vez pulsar

Aquilo incapaz de perecer

Nós

Faz mais uma vez pulsar tantos anos de história

Que não se apaga com o tempo

Nem com as dores

Mesmo sendo elas tantas.

domingo, 12 de setembro de 2021

Pedacinho de sol

 

Em tempos nebulosos

Ilumina todo meu dia

Com seu sorriso fácil

E seus olhos brilhantes

Que o diabo lhe deu

As mãos quentes

Que não me deixam ir

Faz-me querer ficar

Meia hora em um lapso temporal

Que me parecem horas

Você se vai, se põe

Fragmentos da sua alma

Ficam pra trás

No seu cheiro

Entranhado em mim

terça-feira, 2 de março de 2021

Último canto ao Bororó

Existem lugares magnéticos, que nos atraem sem motivo específico aparente, que excedem o comum, como bebida barata, cadeiras confortáveis ou banheiro limpo (tratando-se de bar isso é realmente um achado).
Existem lugares que são imbuídos de uma magia que por mais que eu tente, serei incapaz de defini-lo de forma satisfatória, e assim foi desde a primeira vez que cheguei lá. Os rostos diferentes, todos eles, a música familiar, e o cheiro da noite me invadindo os pulmões. Não resisti e me entreguei, permaneço entregue a casa que tanto me acolheu, que me fez feliz apenas por estar. Tornou meus passos mais leves, acalmou minha alma e me trouxe paz (o quanto posso ter).
Existem lugares que são necessários conhecer para saber. Hoje eu sei.


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Espelhos

Teu medo é teu guia, o cheio putrefato que te invade, 
que anuncia o amargor metálico do sangue que está por jorrar
tu caminhas cego em meio à imensidão do umbral
com olhos arregalados que nada conseguem ver, seria isto uma maldição?
Tateando pedras pontiagudas que te ferem os dedos e o ego já deixado para trás 
foi privado até mesmo do som dos seus próprios gritos. Afinal isso é a morte?
Tropeça no teu prêmio, duro, retangular. A própria caixa de Pandora 
Mas a surpresa que nesta habita é o seu maior medo, talvez o único.
espelhos incapazes de esconder todas as mentiras que ele acreditou ser verdade 
o espelho incapaz de ocultar a podridão de sua alma.


domingo, 18 de outubro de 2020

Sem Perdão

Você vem e se apropria de tudo. 

Das músicas que sequer são tuas, dos pensamentos qu
e sequer são meus, 

me sufoca sem as mãos. 

E ainda assim espera que eu ande sozinha.

Me despe das minhas muletas,

diz que me quer forte quando não tenho isso a oferecer. 

Você é doente, e me faz doente também. 

Já não vejo beleza na língua viperina que me suga o ar, 

as correntes que me prendem ao chão nunca me pareceram tão pesadas.

A carne viva da tortura frequente reclama 
ao mínimo esforço em busca da liberdade. 

Estou esquecida num poço onde somente você,
meu próprio algoz, ousa me visitar.

Me mantém viva porque a dádiva da sua vaidade sou eu 

que não canto, não voo, só sirvo de enfeite em uma gaiola dourada, 

o tipo de servo que melhor te apetece, não é assim? 

Lembro-me de quando dizia que todos eles eram gado.

Eu, ao seu lado, jamais teria como descobrir que era integrante

do rebanho enlouquecido que lhe consome e se permite consumir.

 


domingo, 21 de junho de 2020

Fernando


Sorrisos largos em meio às tardes manauaras, sempre quentes (tão quentes), que se seguiam regadas a cerveja ou a sorvete, a companhia era o mais importante para esses corpos suados.
Sempre parecia que o mundo não era grande suficiente para ele, como se a matéria do seu corpo físico fosse explodir a qualquer momento e libertar sua alma, para que ele voasse enquanto nos arrastamos na realidade.
Era esse o seu pecado e sua dádiva, não adaptar-se destacar-se em meio a todos. Mudava todos os dias, cabelo, barba, pensamentos e atitudes.
Consumiu a vida em sua plenitude e foi tragado por ela ainda jovem, mas deixando a certeza que muitos podem viver para sempre e mesmo assim jamais saberão o que de fato é viver, arriscar-se, pular para o nada sem saber se vai voar ou cair.

domingo, 19 de abril de 2020

Cronos



Corre sem dó a olhos vistos,
Na infância das crianças que nos circundam.

Impiedoso.
Fazendo sempre feridas abertas, 
Mesmo quando as julgamos cicatrizadas.
Impiedoso.
Perpetuando histórias que não perdem o brilho,
Mesmo diante de olhos vermelhos e cansados.
Impiedoso.
A saúde deixando o corpo,
Pouco a pouco. 
Impiedoso.
Depois que se finda a vida ele segue a correr,
Levando todos para o mesmo fim.
Impiedoso.